domingo, 13 de fevereiro de 2011

Práticas utilizadas na leitura de alunos da EJA

1 INTRODUÇÃO
Percebe-se a grande necessidade de uma reflexão rigorosa sobre os procedimentos que estão sendo utilizados para avaliar as diferentes formas de leitura e escrita dos alunos jovens e adultos a fim de que sejam melhoradas as práticas que podem ser responsáveis ou não pelo sucesso desses alunos. O domínio do sistema da leitura, é a ferramenta indispensável para que se possa exercer a cidadania, embora nossas experiências mostrem que, nem sempre ler e escrever garantem ao individuo participação civil e sua autonomia. No que diz respeito à educação de jovens e adultos, isso se torna mais evidente ainda. Quantas pessoas conhecemos que , não lêem nem escrevem exercem suas atividades sociais, trabalham e circulam pela cidade com autonomia e independência.
Inúmeras concepções têm sido discutidas sobre o que se espera de um individuo com relação à leitura, dessa forma podemos dimensionar a importância que tem a leitura e de suas funções na sociedade. Precisamos considerar que o aluno jovem e adulto possui uma vivência de leitura e escrita maior que qualquer outra modalidade de ensino. Jovens alunos desescolarizados ou pouco escolarizados, são portadores de cultura e dominam uma série de conhecimentos e habilidades, isso inclui a leitura e a escrita, os quais são constituídos nas experiências de vida e de trabalho, sendo gerados como respostas às necessidades e problemas.
Comumente o que se percebe é que o aluno jovem e adulto quase não valoriza aquilo que sabe e isso se da sempre pela assimilação do estigma que a condição de analfabeto representa em nossa sociedade. A meta da leitura não é simplesmente ensinar o “bê-á-bá”ou seja, decodificar as letras; é preciso ensinar-lhes para que serve a linguagem escrita e as diferentes formas que podemos usá-la.
Os mais variados tipos de estudos voltados para o uso da leitura e escrita comprovam que um alfabetizando necessita mais que um simples conhecimento de códigos escritos. Ele necessita experimentar um conjunto relativamente amplo de práticas de leitura pelo menos que se encaixem aos usos mais comuns das habilidades básicas exigidas na nossa sociedade. Perceber a escrita, como experiência vivida pelo aluno antes de chegar à escola; repensar nas práticas que são adotadas para melhorar o nível dessas leituras; analisar cada prática específica para desenvolver a aprendizagem dos nossos alunos e principalmente valorizar cada experiência de leitura e escrita que cada um tem na suas particularidades, são discussões e atitudes fundamentais para significar a leitura no seu sentido mais amplo.
São muitos os aspectos que precisam ser considerados para que o professor possa se relacionar com seus alunos, de maneira não discriminatória e ajudar no seu desenvolvimento, para que eles tenham em vista, não somente o desafio de aprender os conteúdos escolares, mas o de viver, participar de sua comunidade e isso implicará automaticamente na participação da sociedade no seu sentido mais amplo.
O conhecimento do jovem e adulto se caracteriza no modo como o professor os vê e exerce sua influência sobre seus alunos. Um professor que não acredita que seu aluno pode aprender acaba exercendo sobre ele uma imagem negativa e o aluno assimila aquela concepção a ponto de fazê-la “ verdadeira”. Mesmo que o professor não explicite isso claramente, pelo modo de agir, se expressar, entre outros, poderá dizer muito ao aluno.
Tem se percebido ao longo da Educação de Jovens e Adultos que, os professores na sua maioria, ainda utilizam práticas ultrapassadas e conteúdos que utilizam quando professores do Ensino Fundamental Regular. Isso compromete não somente a prática pedagógica, como as novas exigências educacionais que estão bem claras na proposta curricular para este segmento de ensino, como compromete também a escolarização que esses jovens e adultos tanto esperam e lhes é devida.
No que diz respeito ao ensino de jovens e adultos,requer um processo contínuo de atualização dos profissionais envolvidos e as estratégias que estes profissionais utilizam na sua prática de sala de aula,dizem muito do seu perfil.A forma como são discutidas tais estratégias e desafios de aprender a ler e escrever,poderão elucidar de fato como o professor vê o aluno e como o aluno assimila as atitudes do professor.
Resgata-se aqui algumas perspectivas do processo educacional,sob a ótica professor – aluno e as contribuições tanto positivas como negativas que são imprescindíveis para elucidar ou de tudo amenizar os desafios e as dificuldades vivenciadas por essa clientela.
2 FUNDAMENTOS E OBJETIVOS DA ÁREA
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ( LDB) trata, no artigo 32, da formação básica e especifica com objetivos desse nível de ensino: domínio da leitura, da escrita e do cálculo. A idéia de base comum no currículo está presente no artigo 38, sugerindo a educação de jovens e adultos com habilidades para prestação de exames e concursos para o prosseguimento de estudos. A integração do homem aos papéis sociais, as responsabilidades profissionais, a participação política – exige uma educação que considere a sua integração individual e coletiva.
A proposta EJA tem como espaço de influência o universo de mais de 35 milhões de brasileiros acima de 14 anos que não completaram a primeira fase da escola fundamental, além de outros 20 milhões identificados em diferentes níveis de analfabetismo. O estágio atual do desenvolvimento econômico exige dos trabalhadores na educação que os prepare para a maior autonomia ao assumirem novos papéis na sociedade. Entre esses, estão a capacidade para comunicação, o espírito de equipe entre outros que estão voltados para o domínio tecnológico.
Em síntese a proposta tem como objetivo a apropriação dos instrumentos básicos e necessários ao acesso a outro grau de ensino, a incorporação ao mundo do trabalho, à valorização da diversidade cultural, o fortalecimento da auto-estima e o exercício da autonomia pessoal.
“O cidadão é o individuo que tem consciência dos seus direitos e deveres e participa ativamente de todas as questões da sociedade. Tudo o que acontece no mundo seja no meu país, na minha cidade ou no meu bairro, acontece comigo. Então eu preciso participar das decisões que interferem na minha vida” (Sousa, 1994).
Essa é, portanto, a ideia que tem o jovem e o adulto ele tem consciência disso, embora que estes direitos na sua maioria das vezes lhe são negados, isso até pode ser explicados num certo ponto pelas grandes mudanças e revolução tecnológica que vem alterar profundamente as diversas formas de trabalho; novos meios de organização, exigindo portanto trabalhadores mais versáteis, que sejam capazes de se adequar a estas mudanças. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) número 9394/96 prevê que a educação de jovens e adultos à aqueles que não tiveram acesso( ou não deram continuidade) aos estudos no ensino fundamental e médio na faixa etária de 7 a 17 anos e deve ser oferecida em sistemas gratuitos de ensino, com oportunidades educacionais apropriadas, considerando as características, interesses, condições de vida e trabalho do cidadão.
Partindo de tais diretrizes ficam destacadas que a educação de jovens e adultos precisa propor um modelo pedagógico que venha assegurar a estes alunos a equidade e a diferença; enquanto a primeira caracteriza numa igualdade não só de direitos, mas de uma correta distribuição de conteúdos que possam satisfazer as reais necessidades destes alunos , a segunda reconhece e valoriza o método que cada um tem bem como desenvolver suas capacidades e valores.
Ainda em conformidade com as diretrizes curriculares nacionais a modalidade da EJA precisa ter assegurado algumas funções básicas ( função reparadora, Função equalizadora, função qualificadora) que garantam não simplesmente sua entrada, mas o acesso ao social, como igualdade de oportunidades para engajar esta clientela no mundo de trabalho em qualquer idade, acesso aos mais variados meios de cultura e prepare-os para se adequarem à vida.
“[...] A toda criança tem direito humano de se beneficiar de uma educação que satisfaça suas necessidades básicas de aprendizagem do melhor e mais amplo sentido do termo, e que inclua aprender a aprender, a fazer, a conviver e a ser. É uma educação que se destina a captar os talentos e o potencial de cada pessoa e desenvolver a personalidade dos alunos para que possa melhorar suas vidas e transformar suas sociedades; a habilidade para a vida e a programas de formação para a cidadania (jomtiem marco da ação)
3 A ESCOLA E OS JOVENS E ADULTOS: ESPECTATIVAS, ATITUDES E VALORES
Os adolescentes e adultos procuram a escola, inicialmente motivados pela expectativa de conseguir um emprego melhor ou então são levados pelo desejo da auto-estima, da independência e da melhoria da sua vida pessoal. Esse quadro suscita no educador a adoção de métodos diferenciados de avaliação destes alunos no que se refere ao conteúdo que possibilita desenvolver a escrita e a leitura, a ampliação de suas capacidades, vencerem sua timidez, a insegurança e os bloqueios.
LIBANEO(1934) Concluiu que “não há práticas educativas sem objetivos elaborados a partir de critérios que refletiam sobre a aplicação dos conteúdos trabalhados em sala de aula.”
A escola precisa, portanto, apossar-se da ideia de que as escritas dos alunos traduzem as representações que elas fazem do seu cotidiano. Nesse sentido é preciso observar cuidadosamente o que os alunos escrevem. Alguns escrevem de forma convencional com “erros”; outros produzem uma escrita escolar, com palavras que aparecem em cartilhas; outros sabem escrever apenas o nome. Considerando que as expectativas dos educandos em relação à escola é muito grande, cabe ao educador fazer o possível para ampliar os horizontes dos mesmos, fazendo com que eles se tornem conscientes de que, para haver de fato uma aprendizagem verdadeira, sua visão vá muito, mais além do que a simples exposição de conteúdos e as atividades mecânicas.
O processo de escuta e produção de textos falados e também o desenvolvimento da leitura estão relacionados diretamente com o estilo de vida dos jovens e adultos. Eles participam de um mundo que fala, escuta, ler, escreve; só precisam dominar seus discursos, nas diversas situações comunicativas e cabe a escola trabalhar nessa finalidade. Entender a lógica de como a sociedade se organiza é uma interrogação para os nossos alunos jovens e adultos. As palavras são portadoras de sentidos e são instrumentos valiosos e fundamentais para trabalhar não só a oralidade, mas a escrita, possibilitando a eles criticar e se situar melhor na sua realidade.
“Os alunos jovens e adultos, devido a seu percurso de vida, experiências pessoais, interpessoais e, muitas vezes, profissionais. Apresentam uma diversidade de conhecimentos prévios e cada qual possui um repertório distinto. É a partir daí desses conhecimentos que se dá o contato com o novo conteúdo, atribuindo-lhe significado e sentido, que são os fundamentos para construção de novos significados. (Brasil/2002)
A escola apresenta sua identidade própria, portanto os projetos educativos devem estar incorporados as capacidades que os alunos possam desenvolver.
4 O QUE É A ESCRITA E A LEITURA NA VISÃO DOS JOVENS E ADULTOS
Ferreiro e Teberosky, através de pesquisas feitas com alunos das escolas públicas e privadas, confirmaram que o processo de aprendizagem da língua escrita é semelhante ao processo de fala, ou seja, aprende-se por assimilação, à medida que há a convivência com as pessoas no mundo a que se tem acesso à linguagem falada e escrita. Para Ferreiro, o adulto constrói sua escrita passando pelos mesmos estágios que a criança passa (fase pré-silábica, silábico-alfabética, alfabética), muitas vezes o professor não percebe porque não possibilita ao mesmo construir sua escrita, mas sim, decorarem e memorizarem as letras e as palavras, etc.
Para ilustrar essa analogia entre a criança e o adulto, Ferreiro apresenta alguns resultados de uma investigação sobre hipóteses que os adultos fazem da escrita.
Diferentemente das crianças eles reconhecem que as segmentações do texto (divisão de frases em palavras, por exemplo) são importantes para a compreensão, mas ainda não identificam onde essas segmentações devem ocorrer ou para, segmentar o texto, utilizam uma lógica diferente da convencional.
Na realidade, a experiência profissional que se tem, nas classes de jovens e adultos, demonstra que a escrita será construída pelos alunos em qualquer faixa etária, na medida em que o professor possibilitar-lhes a escrita espontânea, a produção dos seus próprios textos e principalmente valorizar o universo que os mesmos trazem na vida. Assim, o aluno estará aprendendo a elaborar suas ideias e terá oportunidade de demonstrar as competências fonéticas.
Ainda segundo Ferreiro,
“É preciso mudar os pontos de onde fazemos passar o eixo das nossas discussões. Temos uma imagem empobrecida da língua escrita com sistema de representação de linguagem. Temos uma visão empobrecida do adulto que aprende: o reduzimos a um par de olhos, a uma mão que pega um instrumento e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu” (1991:18).
Esse é o contexto do qual parte o ensino na língua portuguesa para jovens e adultos: sem deixar de lado uma bagagem que eles já apresentam, o desafio é trazer-lhes novas informações, de modo a significar seus conhecimentos e a atingir a esperada autonomia ao lidarem com o sistema de representação da nossa língua.
5 PRODUZINDO DIFERENTES TIPOS DE TEXTOS
A grande maioria dos estudantes jovens e adultos é proveniente das camadas de menor poder aquisitivo, e eles, dificilmente têm acesso a uma única variedade de textos literários. Portanto a escola é um ambiente privilegiado, muitas vezes único, para que o aluno entre em contato com a diversidade de textos escritos na nossa cultura.
Em geral, os textos literários em prosa são os mais utilizados: eles vão desde as pequenas narrativas, como fábulas ou anedotas, até as formas mais extensas, como os romances. Na poesia, o aluno pode ver a organização da escrita segundo outra estrutura (versos e estrofes) e com intenções literárias diferentes, mas ligadas ao realce da beleza da própria linguagem ou da sua sonoridade. São textos que permitem que o aluno perceba especialmente evidenciado, aspectos como a utilização de palavras de modo figurado, a criação de um ritmo particular num conjunto de versos e nas sílabas métricas, os diferentes jogos por parte de cada leitor.
Além de textos literários em prosa e em poesias, muitos outros textos podem se tornar objetos de estudos na sala de aula com jovens e adultos, preferencialmente aqueles que já fazem parte da sua realidade. Quanto mais próximo estiver o texto escrito do cotidiano do aluno, mais o conteúdo se torna significativo, e, portanto maiores são as possibilidades de ele auxiliar o processo de aprendizagem. O interesse pelo que se estuda será sempre o primeiro passo numa aprendizagem significativa.
O trabalho com leitura e escrita de texto deverá ser sempre associado a atividades ligadas a linguagem oral, debater determinados assuntos que se relaciona com o conflito vivido por um personagem; pedir aos alunos que contem aos demais algo que leram; fazer a leitura dramatizada de um poema, entre outras, podem ser estratégias pedagógicas interessantes para motivar os alunos a se aproximarem dos textos, além de tornar mais articuladas as atividades de aprendizagem da língua.
Não se vai a escola apenas para aprender a falar e escrever melhor, fazemos tudo isso porque somos parte da raça humana, de uma história que se constrói a cada momento vivido e acreditamos que, só poderemos construir para acrescentar essa história, a partir de nossa própria expressão, do modo como representamos nossos pensamentos e desejos. A grande maioria dos alunos da EJA pertence a segmentos da sociedade onde a fala não coincide com a imagem que a gramática idealiza, dessa forma a língua portuguesa exerce um privilégio com relação às questões mais pertinentes ou essências da linguagem nas práticas de leitura, escrita e produção de textos. Precisamos analisar criticamente os conteúdos e métodos, pois os aspectos normativos têm uma tendência de prevalecer. É interessante atentar para a maneira de trabalhar esses conteúdos de forma não limitadora, não enfocando apenas a fixação de regras, mas o da significação.
Os alunos jovens e adultos quando retornam para a escola, trazem para a sala de aula, várias representações da escrita, geralmente essas representações foram construídas nos anos anteriores em que passaram pela escola. Para esses alunos a definição do trabalho escolar é que: o trabalho é aula expositiva, cópia de textos e exercícios repetitivos. Precisamos estar preparados para discutir um novo contrato didático explicitando o que podemos e devemos esperar dos alunos e o que eles devem esperar do professor. Isso permite que o professor exerça o direito de aprender como ensinar. Está integrado aos programas de formação continuada para que possamos aprimorar sua prática e proporcionar aos alunos uma aprendizagem de qualidade.
Precisamos definir estratégias para trabalhar a leitura e a escrita, tornando o aluno competente, bem como utilizar diferentes tipos de textos e desenvolver seus pensamentos de forma escrita; isso não somente os professores de língua portuguesa, mas de outras disciplinas. E áreas.
7 CONSTRUÃO DA IDENTIDADE DO ALUNO DA EJA NA VISÃO PROFESSOR-ALUNO
Todas as estratégias que acumulam a formação da clientela jovem e adulta, visando a construção da identidade desses alunos, precisam envolver atividades bem analisadas que venham de fato corresponder às expectativas da formação para o exercício de suas atividades. O professor mais diretamente que qualquer outro profissional desse contexto escolar, deve ser o maior observador de sua prática, porque todas as diretrizes que apontam para a construção da identidade destes alunos, mostram a visão do professor na condução desse processo.
É preciso analisar de forma profunda, inclui nessa análise a auto avaliação, de como são construídos os conteúdos que são distribuídos na grade curricular, dos quais o professor é o que tem maior e melhor acesso; a forma como ele os transforma em algo suficiente para que sirva de referência à identidade de seus alunos. De fato é preciso que o professor tenha centrado na sua visão enquanto condutor de avanços da aprendizagem, uma interação que propicie de fato as relações sociais que farão o acúmulo de elementos significativos para a identidade do aluno, seja ela no seu aspecto mais específico, seja no aspecto mais abrangente. Conforme diz Failcloug:
“Um conjunto de elementos dinâmicos e múltiplos da realidade subjetiva e da realidade social, que são construídos na interação. A construção das identidades é constitutiva da realidade social das práticas discursivas, como a construção de relações sociais entre os falantes e a construção de sistema de conhecimento e crenças.” (MAGALHÃES, 2003)
O caráter dinâmico e autêntico que o professor assume na sua prática é que permite de fato a construção identitária, a sua mediação através das práticas sociais utilizadas no espaço escolar que mais tarde serão personalizadas no seio das interações sociais em que o educando participa nos diferentes segmentos sociais.
Sob essas perspectivas, devem estar voltados a valorização da autoestima dos aprendizes jovens e adultos para superação dos desafios presentes nas dimensões sócio histórica e ideológica da alfabetização; ainda a reflexão sobre os conflitos existentes que estiveram e ainda estão presentes no que tangem o conceito de escola, eduaçação, alfabetização relacionadas diretamente ao contexto escolar da EJA.
Na construção da identidade é necessário o conflito; ele é constitutivo das práticas discussivas que servem para mediar o ensino-aprendizagem da leitura e escrita em função de professores e alunos pertencentes a grupos socioculturais distintos cujos níveis de apropriação das ferramentas tecnológicas no âmbito da leitura e escrita são diferentes. A interação nesse ponto de vista, é potencialmente conflitante pois nela se visa o deslocamento e substituição das práticas discursivas do aluno por outras práticas, da sociedade dominante.
Quando o professor pauta sua linha de ação dentro desse ambiente de compartilhamento na ótica da reflexão das práticas com base em conceitos não totalmente prontos, mas sujeitos a flexibilidade entre seus diversos elementos, tais práticas irão contribuir de forma suficiente para o resgate da autoconfiança dos alunos. Essa visão mostra a sensibilidade do professor quanto a adoção de uma prática de ensino de leitura e escrita que leve os alunos a perceberem a legitimidade das estratégias utilizadas por eles no cotidiano de suas práticas discursivas.
Quando o professor não é capaz de construir no cotidiano da sua prática, um ensino onde a linguagem, língua e demais elementos dessa construção da leitura e escrita, envolva situações concretas de produção de textos, dificilmente essa construção dinâmica, autêntica, será possível. A má utilização, manuseio e visão do professor, pode comprometer o processo pedagógico baseado no papel da escola, é necessário lançar mão do conceito de gênero textual e organizar o ensino considerando essas condições concretas de produção do discurso fora e dentro da escola. Esse conceito não pode ser fechado, ligado aos modelos prontos; não está ligado a uma dimensão histórica, mas na ampliação e veiculação de outros conceitos.
Se não houver uma visão pedagógica pautada na construção dos conhecimentos tanto pelos docentes em interação nas situações problematizadoras, cultivando atitudes de novas teorias, dificilmente haverá transformação, ação autônoma e coletiva que contribua de fato à construção e consolidação da cidadania. O eixo central do trabalho docente precisa está fixado construção da identidade pessoal e social dos alunos em seus contextos.
Aborda-se aqui ainda um aspecto bastante pertinente nessa análise vista neste trabalho; relação à escola, educação, aprendizagem, e todo o processo que dinamiza o conhecimento, nem sempre segue a mesma ótica de como o professor acredita que ele (aluno) assimila.
Ao entrar na escola, o jovem e adulto traz toda sua trajetória, relações familiares, violência, e demais representações, tem todo um significado, é nesse contexto que o aluno vislumbra a superação dos conflitos, a minimização dos sentimentos de vergonha e exclusão. É nesse vislumbre que ele vê a possibilidade de apreender a leitura que venha favorecer melhor compreensão da estrutura social onde convive, nas relações concretas de vivência social.
“Na medida em que possibilita uma leitura crítica da realidade, se constitui como um importante instrumento de resgate da cidadania e que reforço o engajamento do cidadão nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social” (Freire apud KLEIMAN, 1995, p 48)
O aluno da EJA, ao se deparar com o ambiente escolar e as ferramentas que irão assegurar o engajamento dentro das viáveis alternativas de letramento; cria no seu interior sonhos e perspectivas que poderão ser ou não articuladas sob o ponto de vista tanto do professor quanto do aluno e ainda da sociedade onde este tem por base, as noções de vida e de exploração de tudo aquilo que consegue aprender.
Na medida em que o aluno percebe não haver uma consolidação para construção do exercício da identidade, as formas de expressão e de produtividade começam a afunilar ao invés de alargarem-se. A leitura passa a ser vista como algo mecânico, concebida apenas como uma transcrição gráfica da linguagem oral.
A escola precisa conceber e daí passar a exercer, uma prática que assegure de fato e de verdade a consolidação dos conceitos mais complexos transformando-os na simplificação e compreensão do saber. O domínio dos processos de produção e de compreensão textuais, pressupõem não apenas a capacidade de codificação e decodificação, como ainda, todos os conhecimentos das situações de interação mediadas pela língua escrita, incluindo os conhecimentos textuais necessários a estruturação do texto e ao resgate do seu sentido.
Nem sempre a utilização de modelos de práticas mais modernas como uso de textos de circulação nacional, (jornal, letras de músicas, receitas ECT) causarão o efeito desejado pelo professor; se não houver uma associação desses modelos à realidade e adequação para a prática conseqüente desses alunos; tais práticas irão ocasionar uma situação rotineira, fadada ao desgaste físico, psicológico e ainda social.
A consolidação de práticas que o professor constrói e explora não estão propriamente asseguradas nos textos ou modelos mais avançados; prescinde uma prática onde de fato estes textos tenham maior significação e atinjam o objetivo esperado com o foco no aprendizado do aluno. Tais possibilidades vistas sob esse prisma, irão na verdade conduzir todo o processo em que o aluno se sinta construtor e agente da sua própria identidade.
6 CONCLUSÃO
A leitura e a escrita devem propiciar a aquisição de conhecimentos, o desenvolvimento de habilidades e valores necessários à melhoria da qualidade de vida, à participação social e a autonomia para continuar aprendendo. O domínio de habilidades de leitura e escrita é condição essencial para enfrentar as exigências do mundo contemporâneo, permitindo ao jovem e adulto o acesso à informação sobre saúde, direitos, serviços entre outros afetando várias dimensões da vida cotidiana.
Torna-se necessário que os educadores que atuam com educação de jovens e adultos reconheçam que a alfabetização não se resume a aprendizagem do funcionamento na linguagem escrita e do sistema de representação numérica, mas compreendem também o aprendizado de habilidades cognitivas e acesso a diversas manifestações da linguagem escrita em nossa sociedade. Quando o educador compreende que o jovem e adulto possui um conhecimento prévio importante sobre leitura, permite com isso que o aluno desenvolva mais facilmente esses conhecimentos.
A atividade com a linguagem, nas modalidades oral e escrita, produz textos que assumem contornos diferentes em função das exigências impostas pelos diversos contextos de produção e pelas diferentes situações comunicativas. Se as práticas de linguagem produzem textos, refletir a respeito da linguagem é, necessariamente, debruçar-se sobre as características que esses textos assumem. Deve-se refletir sobre a língua e seus usos efetivos para, de fato, ajudar o aluno a aumentar seus recursos expressivos. Diante desse quadro, o educador precisa também possuir um extenso levantamento bibliográfico sobre metodologias que se aplicam aos jovens e adultos, abarcando livros, artigos periódicos especializados e outros tipos de documentos que possam auxiliar-lhe na complexa prática educativa.
Não obstante a tudo que enriquece a prática do profissional dessa modalidade de ensino; abrange-se ainda a dinamização da visão altruísta que pode ser grande valia para a construção da identidade do educando. A visão que se diz dinâmica, não se prende ao saber acadêmico propriamente dito ou em modelos prontos que fazem parte do processo escolar, pressupõem-se que esteja voltada para diferentes práticas discursivas com as quais, tanto professor quanto aluno, interajam e emerjam no processo formativo da cidadania, dos deveres e direitos e permitam o engajamento nas esferas onde se torna necessário a prática da sua identidade.

REFERÊNCIAS
• BRASIL, Proposta Curricular: Jovens e Adultos. São Paulo. Brasília, 2001.
• BRASIL, Ministério da Educação. Proposta curricular 1° segmento, 2001.
• BRASIL, Ministério da Educação. Proposta curricular 2° segmento.
• CABRAL, Regina, Alfabetização e letramento, São Paulo: Ed. Central de Livros, 2002.
• FERREIRO, Emília, Alfabetização e Leitura. 1991;18 LDB. Artigo 32- Formação Básica.
• KLEIMAN, Ângela. O ensino e a formação do professor: alfabetização de jovens e adultos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
• MAGALHÃES, Antonio. Os significados do letramento. São Paulo: Mercado de Letras, 2003.
• MARINHO, Raimunda Ramos. Leitura: Um caminho para cidadania.
• SOUZA, Heberth, De ética e Cidadania, 1994.

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